domingo, 16 de agosto de 2009

O melhor amigo do homem

Interessante como somos alheios a pessoas tão importantes em nossa vida.
Para viver em sociedade necessitamos de limpeza, e o nosso amigo gari é o responsável por esse trabalho.
É um verdadeiro atleta, corre atrás do caminhão que não pode parar, corre atrás do baixo salário, corre atrás da falta de assistência médica, corre atrás da vida; e nunca alcança ao menos o nosso bom dia!
A cidade precisa ficar limpa, mas seus moradores continuam encardidos de mau humor.
Outro dia, envergonhei-me, tentei me lembrar do rosto do homem que todos os dias recolhe o lixo que eu produzo.
Não consegui, não sei quem é...
Nem me lembro se colaborei com a caixinha do último Natal!
Que tristeza! Ainda me afirmo civilizado.
Tentei arranjar uma desculpa para mim mesmo: “mas também ele só passa tarde”.
Não consegui me convencer, preciso fazer algo, tenho que me sentir melhor.
Outro dia o Fido, um vira-lata que vive solto na rua que eu moro me deu uma lição; pelo menos ele late toda noite quando o Gari passa, recolhendo meu lixo e minha indiferença.
Dei-me conta, de que tenho um olhar muito seletivo, só enxergo o que me convém.
Com a desculpa da violência, estou me fechando cada vez mais para a melhor coisa da vida, o relacionamento humano.
O que será que o Gari pensa de mim?
É possível que ao passar em frente a minha casa ele se compadeça pensando: “coitado do bicho homem, cada vez mais solitário”.
E eu dentro de casa, produzindo maravilhosos lixos tecnológicos. Fuçando a caixa de remédios para vencer a depressão.
Preciso ser melhor que o Fido!
Outro dia fiquei a espreita pela veneziana da janela do meu quarto, observei o Gari, me pareceu um Gari britânico, sempre pontual.
Ouvi o latido do Fido saudando o melhor amigo do homem, o Gari.
Ele passou elegantemente por minha porta, com passadas largas, lembrei-me do Vanderlei Cordeiro de Lima, aquele brasileiro maratonista que não desiste nunca.
O Fido latia e o Gari assoviava, me pareceu feliz, ele trabalhava com alegria.
Deitei-me para dormir, acabei sonhando com um Gari gigante que me pegou no colo e arremessou-me para dentro de uma lata de lixos enorme.
Lá de dentro eu só ouvia o latido do Fido, e desesperado gritava: “eu não sou lixo, eu não sou lixo”.
Acordei assustado e transpirando, prometendo a mim mesmo que iria a partir daquele dia prestar mais atenção nas pessoas a minha volta.
Quanto vale um sorriso?
Quanto vale um bom dia?
Certamente as atitudes fraternas valem um mundo melhor e a paz em nossas consciências.
E parafraseando Chico Buarque hoje eu canto: Olha aí, é o meu Gari olha aí, olha aí, viva o Gari!

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